sábado, 22 de setembro de 2007

O Cheiro da Cidade

Como o momento é de despedidas, gostaria de lembrar a importância dos sebos durante minha vida em Goiânia. No começo, freqüentei esses lugares por necessidade. Não tinha dinheiro e precisava ler. Quando criança, não fui adepto de livros, preferia brincar, jogar bola. Cidade pequena, esse era o divertimento. Quando mudei para uma cidade maior, a cidade não era apenas "maior", era uma capital. A mania de andar a pé veio comigo. Do dia em que pisei na rodoviária até hoje, o que mais faço é caminhar. Prefiro andar que pegar ônibus. E foi por essas caminhadas que conheci os sebos da Rua 4 e da Avenida Goiás. O Bazar Cultural e o Armazém do Livro eram minha mina de ouro. Passava horas gastando sola de sapato nesses lugares. Comprava livros, trocava discos (Cds). Claro, ouvia muita música de graça.

Três anos atrás, conheci um sebo na Avenida Universitária. O dono é o Irondes. Conversei muito sobre política e emprego com ele. Ele me vendia livros e quando eu dizia que estava sem grana, ganhava um presente dele, um livrinho daqueles bem velhinhos. Até ajudei na arrumação de suas estantes quando ele ampliou o espaço do sebo. O dinheiro que recebi investi na compra de livros do próprio Irondes. É um prazer folhear livros que datam de antes de nosso nascimento. É interessante encontrar uma primeira edição. Talvez o meu livro mais importante nesse quesito seja "Redenção para Job", de Aguinaldo Silva. Um texto maduro de um jovem de 18 anos na década de 1960. Sua estréia na literatura. Essa informação varia, mas na apresentação do original foi essa a idade declarada pelo autor.

O cheiro da cidade, esse aroma que destaca qualquer aglomerado de pessoas, é o que mais me atrai. Depois, vem o som da cidade. O cheiro de Goiânia é o cheiro dos sebos. E quem perambula atrás de um livro "mais em conta" acha e conhece esse cheiro. Bem, depois da necessidade vem o prazer. E o prazer de ler livros, de folhear um livro sem aquela plaquinha de "é proibido folhear", satisfaz até os dias mais tristes, quem dirá os mais felizes.

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