domingo, 17 de agosto de 2008

A culpa é de quem?

O jornalismo é mesmo uma bênção. Mesmo que se erre, atribui-se a culpa a outros e fica tudo bem. Os editores do caderno EU& do jornal Valor abriram um espaço não para pedir desculpas a um dos entregadores da telefonia brasileira, mas para culpar a internet. Segue o texto na íntegra, até para "alertar" os leitores sobre o que lêem na rede, ou nos jornais impressos.

"Perigos da Internet - Caso Telebras

"Cartas ao leitor e anúncios sempre foram instrumentos precários de raparação de reputações destruídas pela imprensa. Com a internet, essa reparação virou missão impossível. Há estimativas de que, apenas no formato de blogs, haja 70 milhões espalhados pela rede, com 1,5 milhão de comentários publicados todos os dias. A popularização da internet aumenta esses números todos os dias.

"Há quem contrate empresas para rastrear, na vastidão da rede virtual, informações que denigram sua imagem. A sofisticação de serviços do gênero chegou até a criar programas que permitem identificar de onde partiram informações anônimas colocadas no Wikipedia, a enciclopédia virtual que tudo aceita. Nesse mercado, já surgiram até empresas que oferecem serviços de gestão - amigáveis e judiciais - junto aos sites para a retirada de conteúdos negativos.

"O economista André Lara Resende não é cliente dessas empresas. E foi vítima, em edição do dia 1 deste EU&, da inclusão equivocada de seu nome em uma ilustração intitulada "Mar de Lama - principais casos de corrupção após a democratização", que acompanhou amplo material sobre o tema. Em 1999, o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu, por unanimidade, arquivar processo que apurava irregularidades na privatização da Telebras. Pela decisão do tribunal, não há evidências de que os ex-presidentes do BNDES, Lara Resende e Pio Borges, além do ex-ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, tornaram a privatização da Telebras menos rendosa para a União.

"A inclusão de seu nome na ilustração da matéria se deu após pesquisa na internet sobre escândalos recentes de corrupção. Na rede, a informação de sua absolvição perde-se na avalanche de notícias e comentários sobre os 'escândalos' da privatização da Telebras. A ausência de filtros, que democratiza a rede, é também responsável pela grande dificuldade em fazer prevalecer os fatos quando versões já causaram danos muitas vezes irreparáveis a reputações."

Realmente, a partir de pareceres de tribunais de contas por este Brasil, já se fez muitas coisas do arco da velha, obras que não saíram do papel, contas de governadores e prefeitos que renunciaram para não perderem direitos políticos. Todo mundo sabe que as privatizações no período FHC foram muito nebulosas, ocasionando várias investigações sobre corrupção, informações privilegiadas, uso político de bancos federais. Se ninguém foi condenado à época - e até hoje -, não se deve à possibilidade de não haver culpados.

O jornal poderia muito bem procurar os envolvidos na matéria sobre corrupção e incluir alguns parênteses, se acha que democracia é isso. Democracia é poder cobrar diariamente o uso correto de dinheiro público e punição a usurpadores dos bens móveis e imóveis do Estado. Que os jornalistas do referido caderno façam seu trabalho, que é apurar os fatos e versões, e parem de culpar a internet por suas falhas editoriais.

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