sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um canteiro de obras em favor da especulação

O bairro onde moro, Dona Clara, é um canteiro de obras. Na avenida principal, novos pontos comerciais estão sendo construídos. Por que não escrevo "estão sendo abertos"? Porque não estão. Até o momento, tratam-se apenas de construções. Aluguéis surreais. Coisas do capitalismo. Um pequeno comerciante não sobrevive numa recessão pagando alguéis proibitivos, especulativos.

No ramo residencial, o modelo é o mesmo. São tantas as imobiliárias instaladas no bairro, que é melhor mantermos distâncias delas e começarmos a negociar diretamente com os proprietários. O problema, no entanto, é que as propostas oferecidas pelas imobiliárias aos donos de imóveis - não residentes - são atraentes. Dois, três aluguéis adiantados. Pela minha experiência, isso é um chamariz para atrair os tolos. A quantidade de imóveis vagos, gerando despesas como IPTU e condomínio - sem falar, água e energia elétrica -, é grande em face da má distribuição de habitações na cidade.

Aluguéis que ultrapassam a faixa de mil reais são comuns nesses tempos, porém questiono: num bairro tão afastado do centro da cidade, dos pólos de emprego de Belo Horizonte, por que um valor tão alto por uma moradia? Entendo que o investidor tenha o direito de recuperar seu investimento. Mas estamos falando de moradia. Não se trata de uma fábrica, de uma indústria. O sujeito não vai gerar renda e empregos com aluguéis residenciais. Esses valores vão apenas alimentar a especulação financeira em função da inexistência de programas habitacionais efetivos.

Eu gostaria de ter meu próprio apartamento, minha própria casa, porém nos termos atuais, em que o mercado financeiro é mais forte que a demanda de pessoas físicas comuns, é muito difícil encontrar uma habitação digna do nome "habitação". Gaiolas de luxo seria o termo mais adequado a grande parte dos produtos oferecidos pelo mercado em troca do patrocínio governamental.

Entrando na esfera governamental, gostaria de abrir um parentêses para questionar também autoridades públicas que financiam essas "gaiolas". Estão promovendo a desgraça habitacional permitindo que construtoras, imobiliárias e incorporadoras ganhem dinheiro com um padrão de moradia tão baixo. Tudo bem que se olhe para os sem tetos, para as pessoas que moram precariamente em favelas etc. e tal, mas as pessoas também precisam de privacidade. E no modelo atual de habitações patrocinadas pelo Governo "privacidade" não está incluída no contrato estabelecidos entre os construtores e a população.

As paredes nesses imóveis são tão finas que não deveriam ser chamadas de paredes. Tecnicamente, nessas obras, as paredes têm ouvidos, os dos vizinhos ou os dos meninos do quarto ao lado. Então, essas questões deveriam ser analisadas antes da propaganda gasta para incutir nas mentes das pessoas que elas estão morando melhor. Não estão. Estão pagando muito por muito pouco.

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