sábado, 9 de outubro de 2010

A pauta pobre das Eleições no 2º Turno

Religião. Esse tema não deveria ser pauta para as eleições, mas José Serra (PSDB) acha que se a discussão seguir por esse caminho a vitória está certa. Em 2006, Jandira Feghalli (PC do B) sofreu o pão que o diabo amassou quando concorreu ao Senado. Resultado: foi vítima da campanha sórdida promovida - em esquema semelhante ao que se vislumbra agora contra Dilma Rousseff (PT) - por Francisco Dornelles (PP), quando do púlpito de igrejas começaram a surgir orientações de votos contra a comunista e panfletos apócrifos deturpando o apoio ao aborto. Uma questão pessoal, que deveria ser discutida pelas vítimas de estupros e em outras situações, não deveria ser tema de debate tão pobre. O que os governantes deveriam discutir é a participação do Estado na proteção da vida da mulher e punição ao agressor, na proteção da mulher em uma gravidez de risco, na qual o bebê não se formou adequadamente e, possivelmente, falecerá ao nascer.

Com uma agenda tão retrógrada, José Serra não captou a indignação que gerou os votos de Marina Silva (PV). Agora, com dirigentes do PV sendo adoçados pelo PSDB com possíveis cargos em administrações tucanas, Marina vê que a candidatura de Serra não representa em nada os seus ideais. "Ambientalista convicto", disse José Serra. Difícil de entender essa afirmação. As administrações do PSDB não primam pela paulta ambientalista. Apesar das divergências de Marina Silva com o seu ex-partido, o PT, e com o Governo Lula, vejo que não são divergências tão grandes que a aproximem da centro-direita representada pelo agrupamento de PSDB, DEM e PPS.

É interessante a tarefa distribuída pelo PT ao ex-ministro Ciro Gomes (PSB). Ele será o encarregado de responder às agressões proferidas pelos tucanos e demistas. Ciro conhece bem o adversário de Dilma Rousseff. Assim como Marina, Ciro também mostrou que divergia em alguns pontos do Governo Lula - ou, pelo menos, é assim que a imprensa grande pinta -, o que motivou um pequeno distúrbio quando o seu partido, o PSB, rejeitou sua candidatura e referendou o apoio a Dilma Rousseff. Porém, como vemos, trata-se de divergência pequena, que não promove uma insatisfação tão grande que pudesse aproximá-lo dos adversários.

Nesse sentido, entendo, também ocorria à candidatura de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Plínio, ao contrário de Heloísa Helena na disputa presidencial de 2006, não admitiu em momento algum ser usado pelas corporações midiáticas para incorporar o discurso da oposição. Plínio, por exemplo, respondia o que queria, sempre ressaltando uma oposição crítica e socialista. Com uma pauta de projetos à esquerda, o candidato pelo PSOL foi o único nos debates a defender o fim da desigualdade social, a reforma agrária, à valorização dos professores e servidores públicos. Se estivesse, agora, no segundo turno, Plínio de Arruda Sampaio seria a verdadeira oposição, uma oposição inteligente.

Marina Silva representou uma candidatura presidencial pelo PV, mas agora vemos que os "donos" do partido estão interessados em ganhos imediatos. Ou, pior, supostos ganhos imediatos. Ao invés de liberarem os militantes - e eleitores - para votarem de forma independente, pretendem, de forma burocrática, levar o partido a apoiar José Serra no segundo turno e afundar juntos com o tucano.

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