quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Memória X História

Os dias tranqüilos em Itabira trouxeram umas coisas novas pra mim. Os sentidos das palavras "memória" e "história". Ao discutir sobre o passado na Serra dos Carajás, Dona Divina me contou que Carajás não tinha história, apenas memória. Ao contrário de Itabira, cidade que ainda vive e respira - literalmente - o minério de ferro extraído pela antiga CVRD, hoje Vale, a Serra dos Carajás com seus vários núcleos não tem história. Está apenas na memória de quem por lá passou.

Lembro que menino ainda visitei o N1, o que seria a primeira vila de trabalhadores no início da exploração de Carajás. Quando por lá vivi na década de 1980, o que pensei ser história passei durante sete anos numa casinha verde na Avenida Guaribu da "Vila" N5. Hoje ela não mais existe. A empresa criou já naquela época o Núcleo Urbano, N6, onde os trabalhadores moram hoje em dia.

Uma cidade em que as pessoas passavam. Ao aposentarem, os trabalhadores não podiam ficar mais na Serra. As famílias saíam. Os amigos partiam. E a história dessas pessoas seria contada em outro cenário, em outro palco. Um palco que não seria desmontável como aquele encravado no meio da Floresta Amazônica.

Os clubes, as matas em que passei meus dias não ficaram na história. Ficaram na memória. Dona Divina contou que em Itabira a história se mantém. E contou como foi feito "transporte" da história da Fazenda do Pontal, a fazenda da família de Drummond. A mineradora coletou cada parte da casa e a reconstruiu em outro lugar que não aquele que povoou a literatura do poeta itabirano, porque precisava explorar o minério no local original. Manteve-se a história. Assim como a casa em que ele cresceu na cidade e hoje habita um memorial em frente à Câmara-Cadeia.

Com o advento do "orkut", muitas comunidades virtuais serviram para reunir as pessoas que passaram por Carajás. Contam-se histórias e descrevem-se personagens, porém o que se tem é um memorial.

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