domingo, 20 de julho de 2008

Argentina: dormindo com o inimigo.

As coligações políticas, tão em voga para formação de uma frente ampla de apoio, quando constituídas de elementos estranhos tão diversos põem em xeque a governabilidade tão sonhada. Dois exemplos recentes de vices do barulho: no Brasil, mais especificamente no Rio Grande do Sul, o vice de Yeda Krusius conseguiu bombardear a governadora com o chamado "fogo amigo"; na Argentina, a presidenta Cristina Kirchner passou uma semana dos diabos com o inimigo implantado dentro de seu governo, o vice também presidente do Senado.

A traição política, em todos os casos, é apenas uma traição política. Não há nenhuma moral, não há interesses maiores de satisfação ao eleitor. Quando vemos óleo e água na mesma panela, desconfiemos, pois essa mistura não se dará nunca. Como escrevi em outro comentário, o que está em jogo nas coligações é a ocupação de cargos de segundo e terceiro escalões. A união política se dá pelos interesses em tomar quinhões do Estado, formando capitanias semi-hereditárias, em que um partido ocupa um Ministério/Secretaria. Se ocorre um escândalo na pasta, substituem o elemento anterior por um do mesmo partido.

No Brasil, por exemplo, são comuns as alianças entre PSDB e DEM (ex-PFL), assim como PT-PCdoB porque compartilham linhas parecidas de pensamento. Há um partido que, dizem, são vários: PMDB. Isso tem explicação. Quando o Brasil viveu sob sua última ditadura militar, havia dois partidos, ARENA e MDB. A história simplória diz que na ARENA estavam os defensores da ditadura e no MDB os opositores. Porém, não nos deixemos cair nesta definição simplória. Os "arenistas" - PDS-PFL-DEM - defendiam escancaradamente os militares e usufruiam das benesses do poder. Já os "emedebistas" - PMDB - congregavam vários tipos, esquerdistas e centristas. Com a saída dos militares, o MDB virou PMDB e a partir daí virou um saco de gatos, que ora se alia à esquerda nacionalista, ora se alia aos entreguistas liberais.

É nesse balaio de políticos que o eleitor deve fixar seu olhar crítico. E é nesse jogo de camuflagem que o Tribunal Superior Eleitoral deveria fixar sua regulação, pois o mero artifício de mudar nome de partido tem servido para dar sobrevida aos ditadores de ontem. O termo "democrata" corre o risco de ser mal utilizado e mal compreendido, pois os "democratas" de cá são os republicanos de lá (EUA). Também entendo que o uso da expressão "popular" por alguns partidos é um estelionato eleitoral, pois não vemos o povo representado em muitos destes partidos.

Qualquer regulação nesse sentido, porém, pode se tornar uma tutela, uma forma indevida de se nomear os partidos e cairmos novamente na situação duo-partidária. Que o eleitor tome o poder do voto para formar legislativos inteligentes, honestos e autênticos. Que o eleitor tome o poder do voto para escolher os melhores e questionar sempre os caminhos seguidos por seus representantes.

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