segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A degeneração do sindicalismo cutista

Quem presenciou as assembleias da greve dos bancários em Belo Horizonte presenciou a degeneração do sindicalismo cutista. O braço sindical do Partido dos Trabalhadores (PT), conhecido como CUT, conduziu com maestria as assembleias, reduzindo o debate e omitindo dados das campanhas que ocorriam Brasil afora.

Qual o sentido do sindicalismo, se dirigentes sindicais atuam como policiais em assembleias? Qual o sentido do sindicalismo, se dirigentes sindicais reduzem o debate, tornando as assembleias apenas atos de consagração de seus próprios dirigentes?

Estivemos diante, por diversas vezes nessa Campanha Salarial, da ditadura sindical, com aparatos preparados para destruir qualquer um que tomasse o microfone para informar, para comunicar, para esclarecer. Com um jornal pobre de ideias e rico de fotos, o Sindicato dos Bancários de BH e Região manteve a publicação como porta-voz do presidente do sindicato, Clotário Cardoso.

As bases tinha espaço nas fotos, encabeçadas por toda a trupe do sindicato. Apenas ali. No conselho editorial, no entanto, quem mandava era a direção sindical. Os mesmos textos foram utilizados do início ao fim da greve. O único bancário com voz no jornal do sindicato: Clotário Cardoso.

Nas assembleias, a democracia distorcida da direção do sindicato imperou: quem primeiro falasse poderia esperar o contraditório logo em seguida; inscrições de última hora, incluindo os próprios dirigentes, contornavam e detonavam qualquer chama de consciência. Do começo ao final da greve, o espaço para debate foi reduzido. Como? Primeiro, com a redução do tempo ao microfone. Depois, com a redução de vozes ao microfone.

É bem verdade que as assembleias tiveram quórum reduzido por diversos dias. Porém, é verdade que a greve de pijamas mostrou que muitos bancários, já vacinados, optaram por não participar do teatro do Sindicato dos Bancários de BH e Região. Todos conhecem os dirigentes que convocam os bancários para a greve, que afirmam que a greve é forte e que de uma hora para outra destroem toda a mobilização fechando acordos de cúpula, sem o debate com as bases.

Mobilização, aliás, é algo que o Sindicato dos Bancários de BH e Região não sabe fazer. Por quê? Porque não usa seus meios de comunicação para formar e informar. Porque optou pelo sindicalismo de resultados - pífios, é bem verdade, mas de resultados. Número é o que não falta para esses dirigentes sindicais avaliarem que a Mesa Única de negociação da Fenaban é um bem para os bancários. Esquecem que os resultados pífios que têm obtidos no setor mais lucrativo da economia poderiam ser maiores se houvesse um debate honesto, incluindo os trabalhadores da base nas negociações.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) mostra que sua prática está longe do discurso. Como correia de transmissão do PT, por exemplo, não podemos citar o Governo Federal e a presidenta Dilma Rousseff como patrões de uma grande parte dos bancários. A resposta do sindicato era sempre incisiva: não vamos politizar o debate!

Realmente, quando se tem no sindicato um partido inteiro, politizar o debate é uma coisa que não podemos fazer. Afinal, o sindicato representa trabalhadores ou partidos? E quando o partido em questão se arvora na expressão "trabalhadores"? Os sindicatos cutistas, no meu entender, são sindicatos de trabalhadores do Partido dos Trabalhadores.

E quando somos questionados por fazer política nas assembleias e o principal interlocutor é figurinha tarimbada de eleições pelo Partido dos Trabalhadores? Por exemplo, o diretor Fernando Neiva. E quando somos ameaçados de que a nossa atitude radical pode provocar um dissídio na Justiça? Vide os Correios. E quando somos chamados à greve e percebemos que a greve não é nossa, mas, sim, do sindicato?

Tenho muito orgulho de ter participado da greve dos trabalhadores bancários este ano, pois a greve da qual participei foi diferente do teatro armado pelo sindicato. Foi muito bom conhecer e trabalhar com as colegas Amanda Faria, Carine Martins e Lívia Furtado, e de muitos outros bancários anônimos, que não se postaram diante dos microfones do sindicato, mas que de alguma forma foram ouvidos pelos outros bancários em nossas palavras. Foi muito bom saber também que existem pessoas no sindicato que não compactuam com a tratoragem de seus dirigentes.

Quando afirmo que nós quatro trabalhamos durante a greve, é verdade. Trabalhamos duro para romper a ditadura do Sindicato dos Bancários de BH e Região. Cada palavra dura dos dirigentes contra nós fez uma cicatriz. Nós, que estávamos ali lutando pela unidade, pelo bem comum, ouvimos muita baixaria e ataques pessoais. Saímos limpos da greve. O mesmo não posso dizer, mais uma vez, dos dirigentes sindicais.

O retrato das últimas assembleias de greve dos bancários é sempre recheada de não-grevistas. Não vou registrar aqui a expressão "pelegos", pois esta cabe aos dirigentes sindicais que assim agem.

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