sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Palácio das Artes: JK tá de Mattar!

Calma. Exposição não tá ruim assim como se possa imaginar pelo título. Tem que esmiuçá-lo para entender. Mattar vem da curadora da exposição, Denise Mattar. Acertou em cheio nos detalhes da mostra, que ocupa três espaços do Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

Fui sem muita gana. Passei os olhos pelo primeiro pavimento e quando desci para ver mais um dos espaços foi que pensei. Peraí, o negócio tá bom. Vou anotar umas coisas. Posso anotar? Perguntei a um dos seguranças. Pode, respondeu. Perguntei porque não faz mal perguntar. Lá em cima um dos seguranças - de forma muito educadíssima - me informou que eu não poderia mascar chiclete. Norma da casa. Tudo bem. Ele me deu um papelzinho. Coloquei a goma no meio do papel. E o cara levou embora o meu chiclete. Estão de parabéns. Nunca levei uma dura tão educadamente. Uma dura mole.

Então, quem não foi ao Palácio faz o favor de ir. A exposição fica lá até 1º de março de 2009. O serviço é este aqui.

Anotações

Para quem aprecia pinturas e gravuras. Tem de tudo que é tipo. Tem retrato, tem paisagem, tem natureza-morta. Vários modernistas, pois quando prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek trouxe à capital mineira em 1944 uma exposição de Arte Moderna. Há um mural com 44 fotos de artistas modernos: Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Candido Portinari, Djanira, Tarsila do Amaral, Burle Marx, Di Cavalcanti. Como a lista é grande e registrada em ordem alfabética, seguem mais uns nomes: Guignard, A. Toledo, A. Kaufmann, A. Rodrigues, C. Scliar, C. Leão... até chegar no derradeiro Waldemar da Costa.

Ulysses Guimarães jovem! Alguém já viu? Eu ainda não tinha visto. Pois tá lá uma foto dele com o JK e o Jânio Quadros (1957). Tem JK com artistas também, tanto tupiniquins, quanto estrangeiros. Fernando Brant, Lô Borges e Milton Nascimento ladeiam Juscelino num registro de 1972. Ele também faz/fez pose ao lado de Marlon Brando, Kim Novak e Marlene Dietrich.

Extra: Aeroporto entre a Terra e a Lua (Revista Manchete 1957)

Num dos espaços da exposição tem alguns vestidos de época e vários apetrechos, como uma garrafa de Coca-Cola (Marca Reg. de Fanta S/A), um liqüidificador Tatuzinho (A Boa Caninha) e um exemplar do disco Clássicos da Música Caipira, de Inezita Barroso, que ainda está aí na programação da TV Cultura. Dentre os objetos há outros, como um secador de cabelos e várias propagandas antigas, bem como uma televisão (não tão antiga) que exibe programação da época.

"Só o escritor interessado pode interessar"

Belíssima entrevista de Oswald de Andrade em formato de carta. Vale a pena ler. Eu gastei um tempinho saboroso degustando as palavras de Oswald. Datada de 23/05/1944, foi escrita a pedido do redator Marcelo Tavares, da Agência Meridional.

Dentre os muitos quadros, um merece destaque, "O Galo", de Portinari (1941). Há diversos comentários sobre o trabalho exposto em Belo Horizonte na mostra de Arte Moderna. Num deles, Moacir Andrade registra "... parece que a crista está ali. E o bico... Mas que galo absurdo! Só explicando. Galo contorcionista, como os homens deslocadores de circo. Galo sabido..." (Falemos Francamente - Estado de Minas, 14 de maio de 1944)

"VANDALISMO! Oito Quadros da Exposição de Arte Moderna dilacerados a 'gillete'" (Diário da Tarde)

Não houve só estranhamento em letra de imprensa. Teve isso que está escrito aqui em cima. Vandalismo contra o diferente, o novo. Em outras palavras, a reação ao atentado: "Espírito de Porco", "Quando eu ouço falar em cultura, puxo o meu revólver".

Oswald de Andrade também escreve sobre o acontecido para a rede Diários Associados. O texto: "A Gilete e o Pincel".

O passeio vale à pena. Programa gratuito. E para quem não conhece as maquetes da Pampulha, tem três da Casa do Baile, do Museu da Pampulha e da Igrejinha.

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