quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Convivência Pacífica

O ônibus tinha em sua parte frontal, antes da catraca, 7 cadeiras para gestantes, idosos e deficientes. Quatro dessas cadeiras estavam no lado esquerdo do ônibus, sob o sol. No lado direito três cadeiras na sombra, à frente do cobrador. A cadeira da frente era ocupada por um senhor. Nas duas de trás, uma mulher gestante e uma criança pequena.

Isso tudo eu só captei depois de ouvir uma gritaria. Estava entretido com um livro, mas o barulho tirou minha atenção da leitura. Um senhor, ou um cavalo idoso, começou a berrar contra a mulher. Não queria pegar sol. Gritava que a criança não tinha o direito de ir sentada naquela cadeira. Imagino que ele queria que a criança sentasse sobre a irmã que ainda não nasceu, ou seja, que a criança sentasse no colo da mãe grávida. A brutalidade do senhor era tão grande que pensei que ele fosse dar um coice na mulher.

Ele cuspiu tanto palavrão que, se tiver caráter, carregará em sua alma o resto da vida que lhe sobra. Enquanto dava o espetáculo, as outras cadeiras ao sol iam sendo ocupadas por outros idosos silenciosos. A certa altura da Avenida Antonio Carlos subiu um deficiente físico. Aquele senhor que ocupava a primeira cadeira levantou-se prontamente e cedeu lugar ao homem sem perna. O bruto ainda estava de pé lá na escadinha blasfemando e tentando ganhar mais simpatizantes. No entanto, ele era o único simpatizante da intolerância contra mulheres grávidas. "Gravidez não é doença, minha filha!" Imagino que se o ônibus falhasse e diria à gestante para descer e ajudar a empurrar o veículo.

Depois de alguns minutos de silêncio e de viagem, a mulher desceu com a filha e o bebê em sua barriga. O lugar à sombra vagou. O senhor-cidadão ocupou um dos lugares e uma mulher - que parecia estar grávida - perguntou se a senhora que pegava sol numa das cadeiras do lado esquerdo gostaria de sentar-se à sombra. A resposta foi: "Obrigado, minha filha. Sol faz bem pra saúde." A mulher sentou-se então na cadeira, na sombra e o velho rabugento permaneceu lá na escadinha resmungando contra a vida. Vida essa que é tão curta e ainda existem pessoas perdendo tempo com discussões cretinas e canalhices.

Nenhum comentário: